Em janeiro de 2015, aos 14 anos, o adolescente José Victor Menezes Teles surpreendeu ao ser aprovado para o curso de medicina da UFS (Universidade Federal de Sergipe). Sem ter concluído o ensino médio, precisou de uma decisão judicial para autorizar sua proficiência educacional e, assim, cursar a faculdade.
Depois de seis anos, recebeu, na última terça-feira (11), o diploma de médico e se tornou aos 20 anos de idade o profissional mais jovem no país. Agora ele se prepara para atuar no combate à pandemia.
Segundo registros pesquisados pelo UOL, ele iguala o feito do médico Donato D’Angelo, que também se formou aos 20 anos na Faculdade Fluminense de Medicina, em 1939.
Victor já deu entrada no pedido de registro no CRM (Conselho Regional de Medicina) de Sergipe e deve marcar a data para receber o documento ainda nesta semana.
Provas e notas
Para chegar à faculdade, ele conta que foi preciso primeiro comprovar seus conhecimentos. “Foi concedida uma liminar, permitiram que eu fizesse provas de proficiência. Fiz 13 provas e em nenhuma poderia tirar menos do que 5. Conclui passando em todas, com a média geral de nota 8″, diz.
“Foi então que a Secretaria de Educação do Estado me deu a conclusão do ensino médio e a usei para me matricular na UFS”, lembra.
Antes de o curso começar, houve uma greve de seis meses. “Nesse período, eu fiz outra prova do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Tinha muito comentário de que eu teria sido sorte. Fiz e tive uma nota ainda maior. No meu grupo [para alunos de escola pública], tinha sido 7°. No outro, pela nota, entraria em 2°”, relata.
Nesse período, escreveu e lançou o livro “Como Vencer aos 14”, contando sua trajetória até a universidade.
Já na faculdade, Victor diz que não encontrou resistência nem sofreu preconceito pela idade. “Não perdi nenhuma disciplina, muito pelo contrário, até adiantei um pouco. Desde o começo do curso, sempre que podia, eu pegava matéria a mais com a intenção de ficar mais tranquilo lá na frente”, conta.
Um fator que acelerou sua formatura foi ele ter servido no programa federal “O Brasil Conta Comigo”, criado devido à covid-19 e que deu a carga prática necessária para pedir a antecipação.
“Na minha turma, dos 50 que entraram, eu sou o único que me formei agora. Eu fui o único convocado para a linha de frente contra o coronavírus porque me alistei para servir. Passei 19 semanas na linha de frente, a carga horária foi computada e isso substituiu toda a prática”, explica ele, que atuou na cidade de Itabaiana (a 58 km de Aracaju), onde mora e pretende atuar.
Além disso, Victor diz que sempre se interessou em aprimorar a parte prática da medicina.
Eu me empenhei muito, por isso corri atrás de plantões por fora. Eu pegava dois, três plantões de 12 horas toda semana. Fiz isso especialmente nas áreas de obstetrícia, de cirurgia geral e na urgência da clínica geral para conciliar o academicismo, o científico, com a prática.
José Victor Menezes Teles, médico recém-formado
Agora, ele está escrevendo um livro intitulado “O Médico Mais Jovem do Brasil”, em que pretende contar sua trajetória no ensino superior. “Falo das dificuldades, dou detalhes do curso de medicina que as pessoas não sabem e também faço minhas críticas para a melhoria do curso. Estou procurando uma editora para publicar em breve”, diz.
Durante a pandemia, gravou vídeos no seu perfil de Instagram. “Eu tento educar ao máximo, difundir a ciência e as questões de saúde básica”, esclarece.
Sobre a especialidade na carreira, o jovem médico diz que o momento é de focar no combate à covid-19.
No momento não posso me dar ao luxo de dar um veredito sobre especialidade. O foco tem que ser combater o coronavírus. Eu quero voltar à linha de frente, desta vez como profissional, para fazer parte dessa luta. Depois vou pensar nisso com calma, mas acredito que vou escolher uma área cirúrgica.
José Victor Menezes Teles, médico
Pronto para a medicina, diz professor
O professor de propedêutica médica da UFS, Hyder Aragão de Melo, afirma que aquele aluno jovem chamou a atenção. Não só pela idade, mas pela capacidade. Entretanto, diz que nunca tratou Victor de maneira diferente dos demais alunos.
“Quando me deparo com o Victor, encontro um rapaz comum, cheio de vida. Eu não consigo enxergá-lo com uma genialidade, mas como uma pessoa com uma inteligência emocional muito grande; um rapaz que quebrou o paradigma daquilo que alguns autores chamam de ‘geração de cristal’. Ele conseguia trabalhar as frustrações negativas de uma forma plena, muito tranquila e não se perdia na sua forma de pensar, de agir e de interagir com pessoas”, relata.