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Após pressão do Centrão, Lula põe indicado de Lira no comando da Caixa
ESTADÃO - VERA ROSA ROSEANN KENNEDY
26 outubro, 2023
4:29 pm
Após acomodar nomes do PP e do Republicanos no primeiro escalão, presidente troca Rita Serrano pelo economista Carlos Antonio Vieira Fernandes, indicação do deputado
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu ceder ao Centrão e trocar o comando da Caixa Econômica Federal. Lula demitiu ontem a presidente do banco, Rita Serrano, e nomeou para a vaga o economista Carlos Antonio Vieira Fernandes. Indicado pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), Fernandes já ocupou vários cargos estratégicos em governos passados de Lula e Dilma Rousseff (PT).
Presidente Lula durante evento no Palácio do Planalto: novas mudanças para atender o Centrão ENTRAVES.
Lula chamou Rita Serrano ao Palácio do Planalto, na hora do almoço, para informar de sua demissão, que já era esperada desde julho, quando Lira começou a negociar a entrada do Centrão no governo. Para que o PP de Lira e o Republicanos votassem projetos de interesse do Planalto, o presidente cedeu dois ministérios. André Fufuca (PP) ficou com a cadeira antes ocupada por Ana Moser no Esporte e Silvio Costa Filho (Republicanos) foi para Portos e Aeroportos.
A outra parte do acordo com o Centrão residia justamente na presidência da Caixa. Rita Serrano era da chamada “cota pessoal” de Lula, mas deputados e senadores reclamavam que ela não tinha “jogo de cintura” política e não atendia os parlamentares.
EXPOSIÇÃO. A troca na instituição foi acelerada depois que Lira reclamou de uma exposição na Caixa Cultural de Brasília, intitulada “O Grito!”, na qual seu rosto aparecia dentro de uma lata de lixo. De autoria da artista plástica Marília Scarabello, tratava-se de uma gravura que também trazia as figuras da senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e do ex-ministro da Economia Paulo Guedes. Todos estavam no lixo. A exposição foi cancelada na segunda-feira, após a repercussão negativa do caso.
Segundo a Caixa, a decisão de suspender a exposição se deu após a identificação de uma “manifestação com viés político-partidário”. Ainda de acordo com o banco, foi determinada a apuração de responsabilidades por órgãos internos da instituição.
CARREIRA. O novo presidente da Caixa é funcionário de carreira do banco e ligado ao PP. Fernandes chegou a ser ministro interino de Cidades e da Integração Nacional durante períodos alternados, em 2014 e 2015. Comandou o Conselho de Administração da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e foi presidente da Fundação dos Economiários Federais (Funcef).
Em nota divulgada ontem, Lula elogiou o trabalho de Rita Serrano. Disse que ela “cumpriu uma missão importante de recuperação da gestão e cultura interna da Caixa Econômica Federal, com a valorização do corpo de funcionários e retomada do papel do banco em diversas políticas sociais”. O presidente destacou, ainda, que a ex-presidente fez o banco aumentar “a eficiência e a rentabilidade, ampliando os financiamentos para habitação, infraestrutura e agronegócio”.
MULHERES – Com a demissão de Rita Serrano, Lula derruba a terceira mulher em seu governo e entrega o cargo mais uma vez a um homem. Pelo mesmo motivo – acomodar indicados do Centrão no governo – também caíram Daniela Carneiro, ex-ministra do Turismo, e Ana Moser, ex-titular do Esporte.
A diferença na demissão de ontem foi o “modus operandi”. Embora Rita Serrano já soubesse há meses que iria perder o cargo, Lula chamou a expresidente da Caixa para anunciar a demissão e divulgou nota com elogios ao seu trabalho.
Nos casos anteriores, o presidente convocou as então ministras para audiência, disse que precisava do cargo, mas deixou que fossem “fritadas” no posto. Pessoas próximas a Ana Moser reclamaram do constrangimento e criticaram o fato de que a nota oficializando a demissão da atleta nem sequer agradecia pelo seu trabalho.
Quando assumiu o terceiro mandato no Planalto, Lula anunciou o primeiro escalão com 11 mulheres, o que não representava nem metade da Esplanada com 37 ministérios. Como justificativa, os governistas costumavam destacar a distribuição de vagas em outras instâncias – a Caixa era usada como exemplo.
Apesar da troca no comando da Caixa, ainda há “pendências” na instituição porque falta decidir as vicepresidências. O maior entrave para a mudança no banco estava na vice-presidência de Habitação, dirigida por Inês Magalhães, que cuida do programa Minha Casa, Minha Vida.
Lula, a Casa Civil e o ministro das Cidades, Jader Filho (MDB), não querem substituir Inês Magalhães. Até agora, o Centrão exigia “porteira fechada” na Caixa, mas as negociações continuam e tudo indica que ela permanecerá no cargo. O banco tem 12 vice-presidências. No jargão político, “porteira fechada” significa o preenchimento de todos os cargos da estrutura por um mesmo partido ou bloco.
A situação de Rita Serrano, porém, era diferente. Até dirigentes e ministros do PT cobraram de Lula a troca na presidência da Caixa para que a base aliada pudesse votar projetos de interesse do governo, principalmente na área econômica. Na prática, o nome de Fernandes recebeu o aval de Lula ainda em setembro, como mostrou a Coluna do Estadão. Ele foi a nova aposta de Lira diante da dificuldade encontrada para emplacar outras escolhas no governo. •
Dirigentes e ministros do PT também defendiam troca na presidência do banco