O presidente Jair Bolsonaro (PL) demitiu o presidente-executivo da Petrobras —o segundo em dois meses— depois que a empresa se recusou a vender combustíveis com desconto aos consumidores, alertando que isso levaria à escassez de diesel.
O Brasil está entrando em uma janela crucial para garantir o fornecimento de diesel e a administração da Petrobras alertou o governo na semana passada que as bombas podem ficar secas durante o momento de maior exportação de grãos se a empresa não vender combustível a preços de mercado, de acordo com quatro pessoas próximas às discussões e uma apresentação interna vista pela Reuters.
A Petrobras disse que a empresa e outros importadores terão dificuldades para garantir o diesel em meio à escassez mais grave do combustível em 14 anos, disseram as fontes.
Analistas, importadores privados e funcionários da agência reguladora de petróleo ANP ecoaram essas preocupações, disseram pessoas familiarizadas com as negociações, que pediram anonimato para discutir o assunto politicamente sensível.
A apresentação da Petrobras sinalizou o risco de desabastecimento no terceiro trimestre, quando a demanda por diesel aumenta sazonalmente no Brasil e nos Estados Unidos. O país sul-americano começa a exportar maiores volumes de milho em agosto.
“Se não houver sinal de preços de mercado à frente, há risco material de desabastecimento de diesel no pico de demanda da safra, afetando o PIB do Brasil”, disse a Petrobras na apresentação intitulada “Combustíveis: desafios e soluções” e datada de maio de 2022. A Petrobras não respondeu a um pedido de comentário.
Refinarias direcionam cargas para a Europa
O fornecimento de diesel tornou-se uma preocupação global desde que as sanções contra a Rússia reformularam o comércio de combustível e levaram os estoques internacionais para mínimos históricos. Os países importadores estão avaliando o risco de aumento de custos e escassez de oferta, já que a indústria fecha refinarias para reparos ou para reduzir as emissões de carbono.
As preocupações no Brasil sobre as importações de diesel no segundo semestre do ano aumentaram depois que as refinarias do Golfo dos EUA, seus principais fornecedores, começaram a redirecionar cargas para a Europa, disseram duas das fontes.
“Os estoques globais de diesel estão muito abaixo da média histórica”, disse a Petrobras na apresentação compartilhada com o Ministério de Minas e Energia. “A Petrobras sozinha não pode resolver o aumento global dos preços da energia.
” O ministro da Energia, Adolfo Sachsida, ligou na sexta-feira a analistas de petróleo para perguntar sobre a escassez de diesel no segundo semestre do ano, disse uma pessoa diretamente envolvida no assunto. O ministério não respondeu a um pedido de comentário.
“Se a Petrobras parar de vender diesel a preços internacionais por mais de duas ou três semanas, há uma chance de as bombas secarem”, disse um alto executivo de uma grande produtora de diesel.