Inquérito foi concluído e encaminhado ao Ministério Público Federal
A Polícia Federal concluiu que o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, ocorrido em 5 de junho de 2022, no Vale do Javari, norte do Amazonas, foi motivado por atividades de fiscalização na Amazônia. A PF também indiciou como mandante do crime Rubén Dario da Silva Villar, conhecido como “Colômbia”. Outras oito pessoas foram indiciadas por participação.
O inquérito foi concluído e remetido ao Ministério Público Federal na última sexta-feira.
Caso Bruno e Dom: ‘Colômbia’ também mandou matar servidor da Funai em 2019, aponta PF
Segundo a corporação, o mandante foi o responsável por fornecer os cartuchos das armas utilizadas no duplo-homicídio, patrocinar a empreitada criminosa e “intervir na coordenação da ocultação dos cadáveres”.
O grupo liderado por “Colômbia” atuava com a pesca e a caça predatória em Atalaia do Norte, no Amazonas, próximo a terras indígenas e à tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia. “A ação do grupo criminoso gerou impactos socioambientais, causou ameaças aos servidores de proteção ambiental e as populações indígenas”, diz nota da PF.
A corporação informou que continua “monitorando os riscos aos habitantes do Vale do Javari” e abriu outros casos para apurar ameaças a indígenas na região.
Colômbia está preso desde dezembro de 2022. Além do assassinato de Bruno e Dom, ele é investigado por esquemas de pesca ilegal e tráfico de drogas. As apurações apontam que ele tinha contato direto com o Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, que admitiu participação no duplo-homicídio e também está preso junto com seus irmãos.
— Não tenho dúvida que o mandante foi Colômbia. Temos provas de que ele fornecia as munições para Jefferson (irmão de Pelado) e Amarildo (o Pelado), as mesmas encontradas no caso — disse o então superintendente da Polícia Federal do Amazonas Alexandre Fontes, em janeiro do ano passado.
Relembre o caso
Servidor licenciado da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Bruno era alvo constante de ameaças pelo trabalho que vinha fazendo junto aos indígenas contra invasores na região, pescadores, garimpeiros e madeireiros. Ele estava acompanhado de Dom que havia ido à região produzir reportagem sobre a região, que concentra a maior quantidade de indígenas isolados do mundo.
Os dois foram vistos pela última vez em 5 de junho de 2022. Os restos mortais deles seriam encontrados dez dias depois. Os corpos estavam queimados, esquartejados e com marcas de tiro. Conforme a perícia da PF, Bruno foi atingido por três disparos, dois no tórax e um na cabeça. Dom foi atingido uma vez, no tórax.
A PF investigou se havia um esquema de lavagem de dinheiro para o narcotráfico por meio da venda de peixes e animais capturados pela quadrilha. Bruno Pereira teria descoberta o caso, o que contrariou o interesse de “Colômbia”, que tem dupla nacionalidade brasileira e peruana. Segundo as investigações, ele recorria à venda dos animais para lavar o dinheiro da droga, que era produzida no Peru e na Colômbia e vendida a facções criminosas no Brasil. Há suspeita de que ele teria ordenado a um dos executores da dupla colocar a “cabeça de Bruno a leilão”.