Cruzeiro do Sul, Acre, 21 de novembro de 2024 08:39

Cinco motivos para confiar nas vacinas contra a Covid-19

Frasco rotulado como sendo de vacina contra Covid-19 em foto de ilustração (Foto: REUTERS/Dado Ruvic/Illustration)

Embora a ciência comprove que as vacinas são seguras e eficazes, ainda despertam desconfiança da população

Após quase um ano de pandemia, o Brasil ultrapassou a marca dos 200 mil mortos pela Covid-19. Nesse cenário, a imunização contra o vírus é cada vez mais urgente. Em todo o mundo, dezenas de vacinas estão sendo desenvolvidas e pelo menos oito delas já passaram pela fase três, a última antes da homologação pelas autoridades, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Mesmo assim, muitos ainda desconfiam da segurança desses imunizantes e pretendem não se vacinar.
Até o momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recebeu duas solicitações de uso emergencial: uma delas para a CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan; a outra para a vacina Oxford-AstraZeneca, que será distribuída no Brasil pela Fiocruz.

Contudo, outras vacinas, como as desenvolvidas pelos laboratórios da Pfizer/BioNTech, Janssen, Bharat Biotech, Moderna, Gamaleya, também estão entre as possibilidades consideradas pelo Plano Nacional de Operacionalização da Vacina Contra a Covid-19, do Ministério da Saúde. Segundo aponta imunologista Luiz Vicente Rizzo, diretor superintendente de pesquisa do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, o mais provável é que a imunização no País agregue diversas dessas opções para garantir que o máximo de pessoas sejam vacinadas mais rapidamente.

Saiba os cinco principais motivos pelos quais definitivamente deve-se confiar nas vacinas contra o Covid-19.

1) As vacinas são seguras

Nos últimos meses, diversas notícias falsas e sem embasamento científico têm circulado pelas redes sociais a respeito das vacinas contra a Covid-19. Um dos argumentos mais utilizados é que não houve tempo suficiente para se desenvolver imunizantes seguros. No entanto, como explica Luiz Vicente Rizzo, esse um é discurso simplista e que desconhece os esforços mundiais para o combate à doença.

“Nunca a humanidade lidou com uma pandemia desse porte, então, o combate se tornou nossa maior prioridade coletiva. Diversos laboratórios e centros de pesquisa em todo o mundo concentraram seus esforços para o desenvolvimento de imunizantes contra o Sars-CoV-2. Isso garantiu sucesso em tempo recorde em comparação à criação de todas as vacinas que já existiram até então”, destaca o imunologista, esclarecendo ainda que “a maior parte do tempo para o desenvolvimento de uma vacina é consumido pela longa burocracia das agências reguladoras e pela demora para se conseguir voluntários para cada um dos três estágios necessários para a aprovação de acordo com a OMS. Com a urgência trazida pela Covid-19, todas essas questões foram agilizadas sem comprometimento da segurança”.

Outros pontos explorados por disseminadores de notícias falaciosas são os efeitos colaterais graves que as vacinas contra o coronavírus poderiam ter. Contudo, com mais de 15 milhões de pessoas já vacinadas em dezenas de países, não se teve qualquer relato de morte causada por reação alérgica aos componentes.

“Não existe vacina completamente livre de possíveis efeitos colaterais. Isso não poderia ser diferente com as vacinas contra a Covid-19 que já estão sendo utilizadas. No entanto, é preciso destacar que estão sob margens toleráveis e até menores do que as de medicamentos consagrados e amplamente utilizados há mais de um século. Em termos estatísticos, o risco de sofrer um efeito adverso na imunização conta o Sars-CoV-2 é infinitamente menor do que o de se contaminar com o vírus e sofrer graves complicações ou até mesmo morrer sem a vacina”, enfatiza Rizzo.

2) As vacinas são eficazes

Todas as vacinas que passaram pelo estágio três com sucesso, independente da tecnologia que utilizam, são eficazes. Esse percentual precisa se de pelo menos 50%, de acordo com a OMS.

As duas vacinas sob análise da Anvisa para o uso emergencial apresentam percentuais ainda mais elevados. No Brasil, a CoronaVac apresentou eficácia de 78% contra o vírus e 100% contra casos graves da doença considerando apenas os pacientes que necessitaram de cuidados médicos nessa estatística. Já a eficácia geral da vacina – dado que inclui também os infectados que nos estudos apresentaram sintomas muito leves – é de 50,38%. O imunizante da Oxford-AstraZeneca, por sua vez, teve 73% de eficácia comprovada e mostrou ainda evitar 100% dos casos de hospitalização.

“Nunca tivemos vacinas tão vigiadas quanto as desenvolvidas para o combate à Covid-19. Todos os estudos sobre eficácia são acompanhados pela comunidade científica. Então, qualquer imunizante abaixo do padrão seria rapidamente questionado e descartado. Além disso, as agências reguladoras em todo o mundo, incluindo a Anvisa, têm sido bastante criteriosas para aprovação, mesmo nesse cenário que exige máxima celeridade”, considera Rizzo.

E para os que alegam que as vacinas não combatem as novas variantes conhecidas do vírus, Rizzo lembra que estudos preliminares apontaram que a eficácia foi mantida. Além disso, o imunologista explica que há dois tipos de tecnologia utilizadas em alguns imunizantes contra o Sars-CoV-2 que permitem uma rápida mudança do agente vacinal sem a necessidade e novos testes. Uma delas é baseada em partículas pseudovirais, conhecidas como VLP (virus like particles), que são moléculas muito semelhantes ao vírus, mas com a vantagem de não serem infecciosas por não conter o material genético viral. A outra utiliza fagos, que são vírus de bactéria muito simples, que podem ser reconstruídos de forma que o sistema imune passe a reconhecê-los como agentes infecciosos sem de fato serem. A simplicidade na estrutura é uma grande vantagem, já que facilita a manipulação genética caso uma cepa desconhecida do Sars-CoV-2 passe a não ser mais combatida pelas atuais vacinas contra A Covid-19. Ou seja, se novas mutações chegarem a comprometer a eficácia, ainda há opções para resolver esse problema.

3) As vacinas reduzem as chances do surgimento de novas mutações

Quanto mais o tempo passa sem que as pessoas se vacinem, maiores as chances de que outras mutações de vírus surjam. O comportamento dessas novas variações é imprevisível e pode trazer problemas para toda a humanidade que ainda nem podem ser dimensionados.

“Gosto de fazer uma analogia para explicar de forma bem palpável esse fenômeno: pense no Sars-CoV-2 como um jogador da Loteria. O prêmio, nesse caso, é mutação que favoreça a proliferação do vírus. Cada pessoa não vacinada é como um bilhete. Com bilhões de apostas disponíveis, é só uma questão de tempo para que surja uma variante ainda mais perigosa. Por isso é tão importante aderir à vacina”, evidencia o imunologista.

4) As vacinas são fundamentais para o controle da Covid-19

Em aproximadamente um ano de pandemia, não foram encontradas drogas que comprovadamente curem os pacientes acometidos pela Covid-19. A maneira mais segura e eficiente de controle do vírus é a vacinação. Dessa forma, um maior número de pessoas nem mesmo precisará enfrentar a infecção, e os índices de hospitalização devem cair drasticamente.

“Essa é a maior pandemia que a humanidade já enfrentou, mas não é a única. Já lidamos com a varíola, que também é um vírus altamente transmissível, e somente a vacina foi capaz de erradicar. O mesmo aconteceu com a H1N1, que hoje faz parte do calendário anual de vacinação. As vacinas são desenvolvidas com sucesso há mais de 200 anos. Podemos confiar nelas”, destaca Rizzo.

5) Não é apenas uma escolha individual, o futuro da humanidade depende disso

Vacinar-se ou não pode parecer uma escolha individual, mas essa é uma decisão que afeta a saúde coletiva. Embora as vacinas sejam bastante seguras para a população em geral, num primeiro momento podem não ser indicadas para crianças e gestantes, já que esses grupos ainda não passaram pelos testes clínicos necessários. Além disso, alguns desses imunizantes são contraindicados para pacientes imunodeprimidas. Para que esses grupos ainda não poderão ser imunizados fiquem protegidos, é preciso que o maior número possível de pessoas se vacine o quanto antes.

“Enquanto a população não for vacinada, o vírus não sairá de circulação. Além dos evidentes problemas de saúde causados direta e indiretamente pela Covid-19, é preciso lembrar das consequências econômicas e sociais dessa pandemia. Essa é a hora de confiar na ciência e entender que o futuro de toda a humanidade depende das vacinas”, finaliza Rizzo.

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