*João Baptista Herkenhoff
Em oito de setembro comemoramos o Dia Mundial da Alfabetização.
A principal finalidade das datas comemorativas é provocar estudo e reflexão: nas escolas, instituições da comunidade, igrejas, veículos de comunicação.
A discussão dos temas relacionados com os dias festivos não é costume apenas brasileiro. É universal e bastante antigo.
Num programa nacional, ou em programas locais de educação, bom uso pode ser feito das datas comemorativas.
De diversas formas esses dias podem ser lembrados. A forma de comemorar cada data é um desafio à criatividade de líderes políticos, educadores, comunicadores e cidadãos em geral.
Há anos passados, num Oito de Setembro, foi inserida na rede pública SERPRO, uma biografia caluniosa, tendenciosa e falsa do educador Paulo Freire. Esse texto foi reproduzido na Wikipedia e repercutiu pelo Brasil afora. Em razão desse desrespeito à memória do grande brasileiro, a viúva Ana Maria Araújo Freire dirigiu carta ao Presidente, então em exercício, protestando contra a difamação e solicitando o restabelecimento da Verdade, como ato de Justiça.
Na carta divulgada pela imprensa, escreveu a viúva indignada:
“Meu marido jamais praticou ato ou escreveu palavra que pudesse, em sã consciência, outorgar-lhe a pecha de doutrinador marxista e homem de princípios filosóficos e educacionais fracos e débeis”.
Neste Dia Mundial da Alfabetização é de justiça homenagear, ao lado de Paulo Freire, a cachoeirense Zilma Coelho Pinto. Ela foi a primeira pessoa, no Brasil, a compreender que a alfabetização em massa é uma exigência de cidadania. Nossa gloriosa Zilma não foi uma doutrinadora, não escreveu nenhum livro. Foi alguém que “colocou a mão na massa” e convocou governos, igrejas, imprensa, sociedade civil – a eleger, como meta prioritária e de realização possível, a alfabetização universal do povo.
Não foi sem motivo que se colocaram e que se colocam barreiras aos apelos de Paulo Freire e de Zilma Coelho Pinto. Os que detêm privilégios, os que exploram, os que açambarcam as riquezas naturais (brasileiros e estrangeiros) conhecem a força libertadora do alfabeto.
Cachoeiro de Itapemirim prestou justíssima homenagem à educadora que nasceu naquele abençoado torrão. Deu seu nome a uma escola localizada num bairro operário. Que maior homenagem pode ser tributada a alguém que dedicou sua vida à educação? Ser nome de uma escola, e mais ainda, de uma escola plantada na periferia da cidade!
*João Baptista Herkenhoff é Juiz de Direito aposentado e escritor. E-mail: jbpherkenh