Cruzeiro do Sul, Acre, 23 de novembro de 2024 01:57

Educação – Mães de alunos elogiam volta às aulas 100% presenciais em Manaus

Aulas 100% presenciais retornarão no próximo dia 23 | Foto: Reprodução

MANAUS (AM) – Depois de mais de 15 meses entre interrupções e modelos de ensino híbrido ou remoto, as escolas das redes pública e privada da capital do Amazonas se preparam para receber os alunos de todas as séries, diariamente, em regime 100% presencial a partir do próximo dia 23.

A menos de uma semana do modelo de ensino tradicional volta às unidades de educação de Manaus, o EM TEMPO ouviu as expectativas e apreensões de três mães de família sobre o retorno das aulas totalmente presenciais. Apesar da Covid-19 ainda ser motivo de preocupação, a notícia da volta às aulas 100% presenciais foi bem recebida por elas.

Para a dona de casa Hilda Conceição, de 43 anos, mãe de três crianças de 10, 12 e 14 anos, a mudança representa um alívio ao orçamento da família, em um momento no qual o preço dos alimentos estão em alta e afetam, duramente, o bolso das famílias amazonenses.

Está tudo muito caro, então com eles três indo para a aula todos os dias, acho que vai ser uma refeição a menos para eu me preocupar, sem falar que acho muito importante para o aprendizado deles, né? Estão há muito tempo sem aula direito, afirmou Conceição.

Sobre os riscos da Covid-19, a dona de casa afirmou que o avanço da vacinação a tranquiliza. “Apoiei o fechamento das escolas no início da pandemia e sei que mesmo agora eles [os filhos] correm o risco de se infectar, mas acredito que se tomarmos todos os cuidados, esses riscos serão menores, até porque pelo o que vejo na TV, os casos [de Covid-19] estão diminuindo e vacinação avançando”, afirmou.

‘Chance de recuperar tempo perdido’

Já para a assistente administrativa Helane de Souza, de 41 anos, o retorno do modelo de ensino tradicional até causa certa preocupação, mas o ‘tempo perdido’ na aprendizagem do filho, Kaleu Silva, 16, tem lhe deixado ainda mais aflita.

“Acho que ele já perdeu muito conteúdo, por mais que exista esse ensino remoto, eu não acredito que seja a mesma coisa, isso me preocupa demais. Sem falar que esse método [de ensino] acabou quebrando completamente a rotina que ele tinha antes, então eu acho que com essa volta das aulas presenciais, todos os dias, ele e os demais alunos terão a chance de recuperar o tempo perdido”, afirmou a assistente administrativa.

“O que mais me causou preocupação durante esse tempo inteiro é porque  como ele já está no ensino médio, tem os vestibulares, então eu ficava muito pensativa em relação a isso, porque até pouco tempo atrás, não sabíamos em quanto tempo teríamos condições de voltar, então fico feliz que poderemos, aos poucos, voltar à normalidade”, finalizou a assistente administrativa.

‘Precisarei enfrentar esse trauma’

Após perder o marido para a Covid-19, a empresária Cintia Piedade, de 39 anos, ainda não sente total confiança em mandar o filho para a escola, mas ainda assim, permite que ele vá.

Ele estuda em uma escola privada, até percebo que lá eles cumprem as medidas de isolamento, e mesmo que já tenha tomado a primeira dose da vacina, o meu filho também, ainda sinto muito medo dessa doença, perdi o meu marido no começo da pandemia, então fiquei muito traumatizada, desde então, com medo dessa doença levar outra pessoa que eu amo

A empresária conta que o seu maior temor é a ida e volta do filho. “Para mim, o problema não é tanto a escola em si, mas tem toda a questão  do percurso. Ele vai de ônibus, onde geralmente há uma certa aglomeração, esse é meu maior medo, apesar de saber que uma hora ele teria que ir [para a escola] todos os dias, então vou precisar enfrentar esse trauma, porque é por um bom motivo”, ponderou.

Sindicato é contra

 Mesmo com promessas de que as medidas de segurança sanitárias serão cumpridas, o Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado do Amazonas (Sinteam) é contra o retorno das aulas 100% presencial. 

 

Protocolo de saúde da rede estadual
Protocolo de saúde da rede estadual | Foto: Reprodução

A entidade defende testagem para alunos e trabalhadores da educação que apresentarem sintomas gripais e manutenção do ensino híbrido como forma de proteger a comunidade escolar. O Sindicato alega que a imunização completa só ocorre 15 dias após a segunda dose da vacina e os alunos até 11 anos continuam sem a vacina.

Aprendizagem afetada na pandemia

estudo ‘Perda de Aprendizagem na Pandemia’, do instituto Unibanco e Insper, estima que estudantes brasileiros aprenderam apenas 38% do conteúdo de língua portuguesa que deveria ter sido absorvido em 2020. No caso de matemática, esse número cai para apenas 17%. Os dados independem da série da idade dos estudantes.

 

Aula na rede estadual durante pandemia
Aula na rede estadual durante pandemia | Foto: Reprodução

Essas dificuldades de aprendizado associadas a fatores como a pobreza também fizeram crescer a evasão escolar. O número de jovens que já pensou em desistir dos estudos cresceu de 28% em 2020 para 43% em 2021. No total, 6% dos estudantes deixaram os estudos só neste ano. O dado é do Conselho Nacional da Juventude (Conjuve).

Imunização dos professores

De acordo com a Prefeitura de Manaus, 83% dos profissionais da educação da capital já estão com o ciclo vacinal completo contra a Covid-19, enquanto todos os trabalhadores da rede de ensino pública e privada,  prevista para tomar o imunizante, já receberam uma dose da vacina.

Estado de emergência

Na mesma semana em que foi anunciado o retorno às aulas 100% presenciais, a Prefeitura de Manaus publicou um decreto estendendo o Estado de Emergência causado pela Covid-19 por mais 180 dias.

Segundo a titular da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), Shadia Fraxe, a decisão busca assegurar uma maior proteção para a população manauara.

“Temos a obrigação de zelar pela segurança da nossa população. Nos últimos meses, avançamos muito no processo de imunização em Manaus. Mais de 1,2 milhão de pessoas receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19, porém ainda estamos em processo de vacinação de segunda dose e sabemos que apenas o esquema vacinal completo garante a imunização”, explicou.