Cruzeiro do Sul, Acre, 18 de março de 2025 05:23

Homenagem – Em fevereiro Cruzeiro do Sul se despediu do ilustre Cidadão Cruzeirense, José Rodrigues Holanda

José Rodrigues Holanda, servidor aposentado do INCRA e Cidadão Cruzeirense em reconhecimento da Câmara Municipal de Sullivanzeiro do Sul

“Seu relacionamento com os colegas e clientes da reforma agrária sempre foi cordial”, lembra a colega de trabalho, a jornalista Socorro Silva

Neste início do mês de março queremos prestar, em tempo, uma justa homenagem à uma personalidade da categoria Ouro da Casa, que concluiu com muito louvor sua jornada terrena no mês de fevereiro. Em vida o funcionário público federal aposentado José Rodrigues Holanda se notabilizou como bom marido, pai exemplar que educou seus filhos nos caminhos da virtude, da honestidade e da verdade e como servidor público sempre teve o respeito dos seus colegas de trabalho e também da comunidade pelos relevantes trabalhos prestados sempre com muito respeito ao seu semelhante.

Nesta simples homenagem, relembramos um pouco da história de vida do senhor José Rodrigues Holanda, que nasceu na localidade Foz do Jurupari, interior do Estado do Amazonas em 19 de fevereiro do ano de 1943 e foi registrado em Feijó/Acre por opção de seus pais. Viveu sua infância no Seringal Humaitá, no Rio Jurupari até mais ou menos os 11 anos de idade, quando por necessidade sua família migrou para a capital Amazonense, onde iniciou seus estudos: antigo primário, Ginasial e Técnico e se formou em técnico em Administração pela Escola Técnica do Serviço Público do Estado do Amazonas.

Prestou estágio na Secretária de Educação daquele Estado. A primeira experiência de trabalho ocorreu com a idade de 15 anos, quando entrou na condição de aprendiz para uma fábrica de calçados na capital amazonense permanecendo até atingir a idade adulta, tornando-se profissional. Sua vinda para Cruzeiro do Sul aconteceu no ano de 1972, quando um comerciante da cidade esteve em Manaus recrutando profissionais para trabalhar em uma pequena fábrica de calçados que estava iniciando-se por aqui.

Convidado aceitou entre outros motivos para conhecer a cidade, passar uma temporada e posteriormente retornar. Como o empreendimento não deu certo por questão de logística, entre outras, ficou desempregado e já com família constituída estava difícil seu retorno para junto dos parentes. Em consequência teve que procurar trabalho, sendo contratado pelo 7º Batalhão de Engenharia e Construção (7º BEC), em 1974.

Inicialmente trabalhou como auxiliar de topografia, posteriormente foi nomeado para assumir o controle de depósito de peças e materiais de viaturas da 2ª Companhia de Engenharia de Construção onde adquiriu bastante conhecimento com peças, máquinas e equipamentos Caterpilar. Em 1975 foi convidado para trabalhar na Companhia Importadora de Tratores e Equipamentos- CITREQ.

Designado para o setor de contabilidade da empresa passou um ano nesta função, e posteriormente foi nomeado responsável pelo Departamento de Peças onde permaneceu até o fechamento da filial da loja de Cruzeiro do Sul, mas foi convidado para transferir-se para a filial de Porto Velho. Declinou do convite resolvendo ficar em Cruzeiro do Sul visto que fora convidado pelo executor do Instituo Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para transferir-se para aquele órgão recém-instalado em Cruzeiro do Sul.

Enquanto aguardava autorização do contrato retornou ao 7º° BEC trabalhando já na sede do Batalhão lotado no depósito de suprimento de materiais e peças para viaturas e equipamentos rodoviários do Órgão.

Em 1º de agosto de 1978, foi contratado pelo Incra para prestar serviços no então Projeto Fundiário  Alto Juruá, onde desempenhou várias funções, inicialmente no setor de finanças, posteriormente auxiliar do grupo de Material e Patrimônio, Chefe do Setor de Transportes, Chefe do Grupo de Material e Patrimônio responsável pela área de compras, licitações e contrato na administração pública federal.

Em 18 de janeiro de 1996 foi nomeado, através Portaria para chefia do Grupamento de Administração da Unidade Avançada Alto Juruá permanecendo no cargo até 16 de agosto de 1999.  Em seguida foi realocado no setor de crédito. No ano de 2000 submeteu-se a um concurso interno a nível nacional promovido pelo Incra, foi aprovado e em seguida nomeado na função de Empreendedor Social com responsabilidade de desenvolver ações empreendedoras junto aos Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária criados pelo Incra na região do Alto Juruá.

As primeiras ações foram voltadas para cooperativismo e associativismo, tendo na oportunidade juntamente com os parceleiros e líderes comunitários, criado várias Associações de Produtores Rurais na região. Através de Ordens de Serviços, foi nomeado coordenador do Crédito de Apoio a Instalação, disponibilizado pelo INCRA para os Projetos de Assentamento na região: Projeto de Assentamento PEDRO FIRMINO, Projeto NARCISO ASSUNÇÃO, Projeto TAQUARÍ, Projeto RIO AZUL, Projeto de Desenvolvimento Sustentável SÃO SLVADOR, Projeto 13 DE MAIO, Projeto NOVA CINTRA, Projeto PARANÁ DOS MOURAS, Projeto ARCO-ÍRIS, Projeto VITÓRIA e POLOS AGROFLORESTAIS de: Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima e Rodrigues Alves. Com destaque para as ações na RESERVA EXTRATIVISTA DO ALTO JURUÁ, onde foram beneficiadas 1.500 famílias, tendo sob sua responsabilidade o acompanhamento nas compras dos materiais de construção, a fiscalização e a liberação dos pagamentos aos beneficiários após concluírem suas residências.

Após atingir a idade regulamentar, requereu sua aposentadoria por tempo de serviços, a qual foi concedida através da Portaria INCRA nº 006 de 06 de março de 2010, já com os filhos todos com formação superior concluída, com famílias constituídas, trabalhando e residindo neste Estado, resolveu radicar-se definitivamente nesta cidade. Casado com a senhora Francisca do Nascimento Holanda, foi um bom marido, pai exemplar, educou seus filhos nos caminhos da virtude, honestidade e verdade. “Nunca deixou que faltasse nada para nós  e para nossa mãe”, afirma o filho

Como servidor do Incra, lotado na então Unidade Avançada Alto Juruá, onde se aposentou, deixou importante legado no desenvolvimento dos assentamentos de reforma agrária da região e uma impressão bastante positiva perante os colegas servidores da Superintendência Regional do Incra no Acre e famílias beneficiárias.

Uma de suas colegas e parceiras de trabalho Socorro Silva (Corrita), também aposentada, relata um pouco do trabalho que desempenhavam e quão responsável e dedicado ele era.

– O Sr. Holanda e eu, junto com mais 11 servidores do Incra do Acre, atuamos como Empreendedor Social em mais de 60 assentamentos do Estado na época, por vários anos. Sob nossa responsabilidade direta, estavam os do Vale do Juruá, incluindo os Polos Agroflorestais e as Florestas Estaduais do Governo do Estado, mais as Reservas Extrativistas do Governo Federal (Ibama/ICMbio). Atuávamos junto a Prefeituras, Sindicatos, associações de trabalhadores rurais, cooperativas, instituições governamentais municipais, estaduais e federais, buscando parcerias que levassem melhorias às comunidades assentadas, nas áreas de saúde, educação, economia (agropecuária principalmente), infraestrutura e associativismo.

Esse trabalho chegou a envolver aproximadamente 10 mil famílias de trabalhadores rurais (agricultores, pescadores, pecuaristas de pequeno porte, extrativistas etc) nos municípios de Cruzeiro do Sul, Rodrigues Alves, Mâncio Lima, Porto Walter, Marechal Thaumaturgo e Tarauacá. Nas estradas de terra e nos rios, ele não media esforços para fazer chegar qualquer melhoria que fosse possível, como um curso técnico, um açude, energia solar, crédito fomento, que pudesse beneficiar comunidades ribeirinhas ou não, isoladas na floresta.

Mais tarde, incorporando as atividades do Setor de Crédito Apoio à Instalação (Ferramentas básicas) e Aquisição de Materiais de Construção (para construção de habitações rurais rústicas), com o suporte de outros servidores da Unidade – Antônio Matos, João Damião, Casemiro, José Maria, Ceilde, Hermenegildo Jucá, Maria Sales, Chico Sales e outros – chegávamos a passar vários dias na floresta visitando e acompanhando as entregas de material e a construção dessas habitações, fazendo reuniões de esclarecimento sobre a aplicação desses recursos e outros procedimentos pertinentes. Se não me engano, chegamos a comemorar a construção de 7 mil habitações rústicas em madeira, outras mistas, em madeira e alvenaria, em mais de 30 assentamentos, polos e reservas da região do Juruá.

Seu relacionamento com os colegas e clientes da reforma agrária sempre foi cordial. A paciência, a serenidade e a educação eram características marcantes da sua personalidade. Quando ele se aposentou em 2010, comentávamos no Setor que ele deixou saudades da sua mansidão e dedicação, mas muito trabalho pra nós que incorporamos os assentamentos e famílias que estavam sob sua responsabilidade direta. Pelo volume de trabalho, dizíamos: – Seu Holanda foi um gigante!!

Continua a servidora do Incra aposentada: – Aliás, perdemos 2 colegas e servidores excepcionais este mês: o Altemir Maia, nosso Mir, que ainda estava em atividade, e o senhor. Holanda. O Mir iniciou como desenhista de topografia, mas aos poucos se destacou também como um dos responsáveis pelos serviços de Tecnologia de Informações. Qualquer dúvida nos sistemas operacionais de TI recorríamos a ele, ao Serafim, atual chefe da Unidade, e José Augusto (Zeca). Quieto, reservado, prestativo e muito competente, assim era o Mir.

Certamente eles cumpriram suas missões nesta encarnação e partem para as dimensões espirituais deixando nossos corações cheios de saudade e profundo reconhecimento pelos seus trabalhos e esforços em benefício da reforma agrária nesse pedacinho mais ocidental do Brasil – o Vale do Rio Juruá, no Acre.