Irmã Maria Gracia Sabino da Costa, uma luz que iluminava a comunidade do Alto Juruá se eleva para cintilar a partir do Cosmos. Mas essa elevação não significa distância, e sim proximidade e interioridade profunda, pois as pessoas santas possuem o dom de iluminar as mentes e os corações de muitos que usufruem de sua mensagem de vida ao longo das gerações.
Quando as Irmãs Dominicanas de Santa Maria Madalena, vindas de Espira, Alemanha, aportaram em Cruzeiro do Sul em 19 de dezembro de 1937, passaram a contribuir decididamente na construção do tecido social através da educação, da promoção humana e da evangelização. Esse importante trinômio tem a sua eficácia comprovada, pois atende as pessoas em sua totalidade: o ser, o fazer e o acreditar. Além do mais, as corajosas religiosas deixaram seu convento na desenvolvida Europa em caráter definitivo para se embrenhar em nossas realidades amazônicas. Tanto as pioneiras quanto as sucessivas missionárias, ou foram sepultadas em nossa terra sagrada ou retornaram à sua terra de origem somente quando as forças físicas não mais lhes possibilitavam o serviço da missão.
Isso nos faz lembrar o caráter profundo da missão da Igreja na Amazônia, como tão bem disse o Papa Francisco quando esteve no Brasil para a Jornada Mundial da Juventude em 2013: “A Igreja está na Amazônia não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início, a Igreja está presente na Amazônia com missionários, congregações religiosas, sacerdotes, leigos e bispos, e lá continua presente e determinante no futuro daquela área”.
Esse destemido testemunho missionário das Irmãs Dominicanas foi logo consolidado com a adesão das vocações locais. Assim sendo, a continuidade da missão estaria garantida. E veja-se que qualidade de pessoa foi preparada para ser a primeira seguidora das Irmãs e a animadora de muitas outras vocações!
A Irmã Maria Gracia, conforme dito em sua bonita celebração de exéquias, tinha um tino afinado em querer realizar o bem e potencializar decididamente o seu projeto de vida. Junto com sua família, buscou todos os meios possíveis para ter uma boa educação numa época e num local nos quais essa possibilidade era escassa. Mas a sua persistência foi grande, e ela acabou sendo agraciada com a educação oferecida pela recém-chegada congregação das Irmãs Dominicanas ao interior do Acre.
Mas a graça de Deus é maior, pois no fruto da educação estava também embutido o dom da vocação. E a jovem Francisca Sabino da Costa, que era seu nome de batismo, lutou corajosamente para realizar esse ideal. No início, com a resistência da própria família que, depois, passou a admirar e a apoiar a sua vocação.
Irmã Gracia foi destemida e convicta missionária da educação, da evangelização e da vida consagrada durante 68 anos. Teve sempre a confiança de sua congregação religiosa para ser animadora das novas comunidades que o bom Deus ia permitindo que elas abrissem no Brasil. Assim ela o fez em Mâncio Lima e em Rio Branco – Acre, em Guarulhos – São Paulo, além das várias presenças em Cruzeiro do Sul. Fato marcante foi quando ela topou o desafio de coordenar a fundação do convento das Irmãs e internato para jovens estudantes em Porto Valter, no Alto Juruá, lugar onde ela serviu por 25 anos.
Muitos são os depoimentos e manifestos referentes à Irmã Gracia por ocasião de seus funerais realizados na Capela do Instituto Santa Teresinha e na Catedral Nossa Senhora da Glória, em Cruzeiro do Sul, como também pelas redes sociais. Irmã Gracia foi uma pessoa dócil, trabalhadora, decidida, alegre, simples e com forte espiritualidade. Uma religiosa com capacidade polivalente, disposta a assumir diferentes tipos de missão. Uma pessoa conectada com as fontes divinas do Criador e do Redentor.
O que sempre me encantou em nossa querida amiga foi a certeza de que ela era feliz no seu estilo de vida e naquilo que fazia. Uma vocação acertada, uma vida centrada e feliz: um dom tão almejado por todos nós!
A partir de sua intimidade com Nossa Senhora da Glória, Irmã Gracia já contempla o bom Deus e canta prazerosamente: “O Senhor fez em mim maravilha, Santo é o seu nome!”
Ir João Gutemberg Mariano Coelho Sampaio, FMS