A operação realizada pela Polícia Civil nesta quinta-feira (6) na favela do Jacarezinho é alvo de uma investigação independente do Ministério Público e de críticas de entidades pelo alto número de mortos. A operação, a mais letal da história do Rio de Janeiro ,  terminou com 28 mortos — sendo um policial militar. Delegados que participaram e organizaram a operação disseram, em entrevista coletiva, que a ação foi planejada de acordo com os protocolos definidos pelo Superior Tribunal Federal (STF), mas que não comemoram o resultado devido o grande número de mortes.

A operação foi montada após a Justiça determinar a prisão de 21 pessoas acusadas de tráfico de drogas. Dos mandados de prisão, três foram cumpridos e outros três procurados acabaram mortos durante os confrontos. Outros três suspeitos foram presos, totalizado seis detenções durante a ação.

A operação da Polícia Civil no Jacarezinho teve como alvo uma organização criminosa que atua na comunidade e que seria responsável por homicídios, roubos, sequestros de trens da SuperVia e o aliciamento de crianças para atuarem no tráfico local. A ação foi chamada de Exceptis e é coordenada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).

A cronologia da operação no Jacarezinho

  • 5h50 – Cerca de 200 agentes saíram da Cidade da Polícia, que fica a cerca de cem metros do Jacarezinho. Estavam a pé, em quatro blindados e em dois helicópteros.
  • Por volta das 6h – Começou o cerco a comunidade por vários pontos, com o apoio da PM. Em várias vias, encontraram barricadas, feitas com trilhos e correntes de ferro, que precisaram ser retiradas para que os blindados passassem.
  • 6h10 às 6h47 – trens da Linha 2 do metrô ficaram parados. Muitos passageiros que estavam na linha 2 do metrô sentaram no chão do vagão para se proteger dos tiros. Duas pessoas – o militar da Marinha Rafael M. Silva, de 33 anos, e Humberto Gomes Duarte, de 20 – ficaram feridos na estação de Triagem, depois que um dos disparos atingiu uma janela do trem. Um foi ferido por estilhaços de vidro, e o outro foi atingido de raspão no braço.
  • 6h50 – No interior da comunidade, na Rua José Maria Belo, na área conhecida como XV, o delegado Marcos Amim e o inspetor André Leonardo de Mello Frias desceram da viatura para a retirada de barricadas. Houve uma rajada de tiros, e o inspetor foi baleado. O policial chegou a ser levado para o Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier, mas não resistiu.
  • 7h – A mulher do ajudante de pedreiro Jonas do Carmo dos Santos, 32 anos afirma que ele saiu de casa pouco depois das 7h para jogar o lixo, comprar pão, passaria em uma loja de materiais de construção e, em seguida, faria uma obra na casa onde eles moraram antes de se mudarem.O barraco seria alugado. No entanto, ele foi morto antes mesmo de chegar na padaria Flor do Jacaré. A família diz que moradores afirmaram que o homem – que usava tornozeleira eletrônica e já havia cumprido três anos de pena – foi alvejado após se assustar e correr. Ele teria pedido ajuda, mas acabou sendo morto. Foi pelo WhatsApp que os parentes teriam recebido imagens de Jonas já morto. A família diz que ele implorou para não morrer. A família não encontrou o equipamento de monitoramento no corpo do rapaz.
  • 7h30 e 8h – Horário em que ocorreram mais mortes, no Beco da Zélia e no Beco do Caboclo.
  • 14h – Enquanto era realizada perícia, houve mais um grande confronto, com duas mortes
  • 16h – Fim da operação

Nesta sexta-feira, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, e ao procurador-geral de Justiça do estado do Rio de Janeiro, Luciano Oliveira Mattos de Souza, um vídeo que mostra a possível execução de uma pessoa.

O vídeo, que circula nas redes sociais, diz que a ação teria sido filmada durante a operação da Polícia Civil na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio. Mas, os policiais da filmagem aparecem com um uniforme que não é usado por policiais civis do Rio. O objetivo é que seja feita uma apuração sobre o que ocorreu. Não há informações sobre a autenticidade das imagens. A operação foi a mais letal da história do Rio de Janeiro, com 25 mortos.

Parentes relatam que pessoas mortas durante a operação policial na favela do Jacarezinho (Zona Norte) na última quinta-feira (6) tinham marcas de cortes em seus corpos. As famílias acusam agentes de terem desferido golpes de facadas contra vítimas.

 

Durante o enterro do policial civil André Leonardo de Mello Frias, de 48 anos, morto após levar um tiro na cabeça durante a operação, o secretário de Polícia Civil Allan Turnowski disse que a ação foi feita com atuação técnica e com maturidade. Turnowski, que saiu sem dar entrevista, disse em seu pronunciamento que os traficantes, nesta quinta-feira, não atiraram para fugir e sim para matar. Ele também revelou que a inteligência da corporação confirmou que 24 mortos eram criminosos.

 

“Para quem conhece de operação um pouquinho, só um pouquinho, o traficante, o criminoso, quando a gente entra numa comunidade, ele atira para fugir. Ontem(quinta-feira), eles atiravam para guardar posição, atiravam para matar, para confrontar. Eles não correram. O que a Polícia Civil mostrou ontem foi técnica, foi maturidade, foi profissionalismo de mostrar à sociedade que aquele traficante que invadiu a casa de uma moradora, ele é inimigo de toda sociedade. Porque pode invadir sua casa na Zona Sul, na Zona Norte, na Zona Oeste. E a última barreira eram vocês (policiais). E vocês fizeram a missão de vocês. A inteligência já confirmou todos os mortos como traficantes. Dezenove com folhas corridas até agora”, disse o secretário.