Cruzeiro do Sul, Acre, 28 de novembro de 2024 02:46

Nova praga ataca pastagens no Acre

A pulguinha-do-arroz se alimenta de várias espécies vegetais como cana-de-açúcar, milho, trigo e arroz

Uma nova praga, conhecida como pulguinha-do-arroz (Chaetocnema sp.), tem causado danos às pastagens em formação, frequentemente relatada em diversos estados, inclusive no Acre, em vários municípios. A praga é um besouro de formato arredondado, liso, preto e brilhante que ataca plantas no início do desenvolvimento. Em 1996, foi identificada pela primeira vez no Acre e a partir de 2014 os relatos da presença do inseto ficaram mais recorrentes.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Acre, Rodrigo Santos, a pulguinha-do-arroz se alimenta de várias espécies vegetais como cana-de-açúcar, milho, trigo e arroz (polífago). Na fase adulta, a praga remove o tecido da epiderme da planta, o que causa manchas esbranquiçadas nas folhas. Os danos severos podem levar à morte da forrageira, enquanto as larvas do inseto ficam no solo alimentando-se das raízes.

“O ataque acontece na fase crítica de desenvolvimento da planta, com considerável desgaste, e algumas não se recuperam. Além disso, algumas espécies da praga também são transmissoras de viroses para as plantas jovens, mas ainda não há certeza se a espécie identificada no Acre transmite essas doenças”, afirma Rodrigo.

Os danos causados nas pastagens vão desde a morte de plantas até a perda total da semeadura, como relata o produtor rural Rafael Mamud, morador do município de Bujari (AC). “A primeira vez que o ataque aconteceu, há quatro anos, eu perdi toda a semente que joguei. Não conhecia a praga e tive que semear novamente. Percebi quando o capim estava com cinco centímetros e começou a ficar amarelada e morreu. No segundo ataque, eu usei um inseticida recomendado pelo engenheiro-agrônomo, de efeito sistêmico, e o controle deu certo”, explica.

Métodos de controle

Por ser uma praga nova, ainda não há estratégia de controle bem definida para a pulguinha-do-arroz, nem produtos registrados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), entretanto, existem técnicas que podem ser utilizadas para diminuir o ataque.

De acordo com o pesquisador da Embrapa Acre, Carlos Maurício de Andrade, o produtor deve monitorar o pasto que está sendo reformado, durante as primeiras semanas após o plantio, para observar se há sintomas de ataque para identificação da praga. “O que temos recomendado aos pecuaristas é uma forma preventiva de controle, para que escolham sementes tratadas com inseticidas registrados para pastagens para tentar minimizar o problema do ataque”, afirma.

Andrade também orienta que o produtor rural deve consultar um engenheiro-agrônomo, caso seja detectado alta incidência de ataque dessa praga. O profissional vai recomendar um inseticida aprovado para aplicação nas pastagens, após uma verificação do nível da incidência na área.

Para Rodrigo Santos, estudos ainda devem ser realizados para averiguar a eficiência desses métodos de controle nas condições climáticas nos diferentes estados brasileiros, mas a adoção de algumas práticas recomendadas pela pesquisa pode minimizar danos. “Para reduzir o ataque dessa praga recomenda-se o aumento da taxa de semeadura da forrageira em até 30% para aumentar a chance de plantas viáveis. Em caso de ataques, é possível encontrar cerca de cinco insetos por planta e apesar de ser diminuto é possível ver a olho nu, facilitando o monitoramento do plantio”, explica.

Pesquisa

Em 1996, o inseto foi verificado no estado do Acre por Murilo Fazolin em plantios de arroz de sequeiro. Desde 2014, a pulguinha-do-arroz tem sido observada nas pastagens, principalmente na época de reforma. De acordo com Rodrigo, em 2019 foi instalado um experimento no Campo Experimental da Embrapa Acre para observar o ataque da praga em plantas novas de pastagem. “Foram coletadas espécies, com o auxílio de um aspirador entomológico, e enviadas para identificação ao taxonomista Luciano Moura, do Museu de Ciências Naturais da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura em Porto Alegre, RS”, explica o pesquisador.

O estudo “Pulguinha-do-Arroz (Chaetocnema sp.) (Coleoptera: Chrysomelidae): Nova Praga de Pastagens no Estado do Acre”, publicado pela Embrapa Acre em 2020, disponível para leitura e download no Portal da Empresa (https://www.embrapa.br/en/acre/busca-de-publicacoes/-/publicacao/busca/Pulguinha-do-arroz, reúne informações detalhadas sobre o inseto.