Cruzeiro do Sul, Acre, 29 de dezembro de 2024 14:34

Pesquisa realizada pela Embrapa Acre comprova boa produtividade de mandiocas cultivadas no Acre

Etnovariedade de mandioca cultivada no Juruá

Estudo realizado pela Embrapa Acre confirmou a alta produtividade de variedades de mandioca cultivada por produtores acreanos, reforçando o valor do conhecimento tradicional nas atividades produtivas. As cultivares testadas apresentaram os melhores rendimentos em seus respectivos locais de seleção: Baixo Acre e Vale do Juruá, resultado que mostra a interação positiva da cultivar com seu ambiente de origem.

No Acre, a mandioca é a principal cultura agrícola e desempenha importante papel econômico e social. A produtividade média de 23,7 toneladas por hectare é superior à média nacional de 15 toneladas por hectare (IBGE), entretanto, de acordo com pesquisas da Embrapa o potencial produtivo da cultura pode ser melhorado com o uso de variedades adaptadas às condições de clima e solo da região, práticas adequadas de manejo do solo e adoção de uma agricultura sem fogo.

A busca por cultivares de mandioca cada vez mais produtivas é uma prática constante entre os produtores acreanos. No entanto, para se obter sucesso com uma nova variedade e recomendá-la para o cultivo é preciso conhecer o desempenho do material na região. Assim, podemos oferecer informações a partir do ponto de vista científico”, pondera o pesquisador da Embrapa Acre, Celso Bergo.

Outro aspecto a ser considerado, segundo o pesquisador Falberni Costa, é se esse novo material produzirá tão bem quanto o material nativo, sem a necessidade de grandes investimentos em insumos externos à propriedade. “Isso é coerente com a realidade dos agricultores familiares da Amazônia” acrescenta.

O estudo “Desempenho de Genótipos de Mandioca no Baixo Acre e Juruá” comparou o comportamento de diferentes variedades em relação ao teor de amido e produtividade das raízes. No Campo Experimental da Embrapa, em Rio Branco, foram avaliadas cinco cultivares de mandioca tradicionalmente cultivadas nas regionais do Baixo Acre (Paxiubão e Pirarucu) e Vale do Juruá (Chico Anjo, Mansibraba e Caboquinha) e uma variedade recomendada pela para cultivo na regional do Baixo Acre, a BRS Ribeirinha.

Um segundo experimento, em Mâncio Lima, acompanhou o desempenho das cultivares Mansibraba, Branquinha e BRS Ribeirinha, único material avaliado nas duas regionais.

Resultados

O estudo mostrou que em solo sem correção e adubação as cultivares BRS Ribeirinha e Pirarucu, avaliadas em Rio Branco, produziram 23 e 25 toneladas por hectare, resultado superior à produtividade das cultivares Chico Anjo (17 toneladas/hectare), Mansibraba (18 toneladas/hectare) e Caboquinha (21 toneladas/hectare), acompanhadas no Juruá.

Em Mâncio Lima, a cultivar BRS Ribeirinha produziu 6 toneladas de raízes/hectare, em solo de baixa fertilidade – sem correção e adubação – desempenho inferior ao obtido pelas cultivares Branquinha e Mansibraba, que produziram 10 e 19 toneladas por hectare, respectivamente. Nesse mesmo experimento, após correção do solo e adubação, houve aumento significativo na produtividade das três cultivares testadas, com respostas mais expressivas para a Branquinha e BRS Ribeirinha.

O uso de adubação proporcionou aumento de 90% na produtividade da cultivar Branquinha, passando de 10 para 19 toneladas por hectare, e elevou em 267% a produção da BRS Ribeirinha, saltando de 6 para 22 toneladas por hectare. Já a cultivar Mansibraba obteve a menor produtividade em solo corrigido e adubado, em comparação com os demais genótipos, apresentando 26% de aumento em relação ao tratamento sem uso de insumos”, diz Bergo.

O pesquisador destaca, ainda, que chama a atenção que mesmo sem adubação, essa cultivar produziu 19 toneladas por hectare. Em relação ao teor de amido, a pesquisa não identificou diferença significativa entre as cultivares avaliadas. Em Rio Branco, a média foi de 29% e em Mâncio Lima ficou em 31% e 33% sem e com correção e adubação, respectivamente.

Experiência dos agricultores

Para o agricultor Rosemir de Queiroz Pinheiro, morador de Mâncio Lima e parceiro na pesquisa, é importante observar as características de cada variedade de mandioca. Desde criança ele trabalha com a produção de farinha, por isso tem experiência para falar das variedades mais produtivas. “É preciso ter cuidado na escolha porque algumas têm mais casca, outras apresentam mais água e outras não dão farinha boa. Para produzir uma boa farinha, aqui no Juruá temos a Branquinha, a Chico Anjo, Mansibraba, Caboquinha, Curimã e Santa Maria, reforça.

Com relação à BRS Ribeirinha, cultivar em processo de validação, embora o desempenho em solo sem adubação seja inferior ao de cultivares tradicionais da região, o resultado com o descascamento mecanizado surpreendeu; mesmo com uma produção menor, a gente ganha em rendimento porque essa mandioca tem raízes praticamente uniforme e quase sem falhas. Tive um ótimo proveito, explica Pinheiro.

Parentesco entre manivas

A seleção de cultivares de mandioca adaptadas está entre as estratégias da pesquisa científica para melhorar o rendimento dos cultivos e incentivar a expansão da cultura no Estado. Outros estudos da Embrapa sugerem que grande parte das etnovariedades apresenta muita semelhança entre si, ou seja, possui um grau de parentesco bem próximo;Por isso, a identificação, recomendação e disseminação de novos materiais genéticos de mandioca requer estudos mais detalhados. Nesse sentido, a parceria com os agricultores tem sido fundamental tanto com as pesquisas como para a manutenção de diversos genótipos ao longo do tempo, ressalta Bergo.

A pesquisa com as etnovariedades de mandioca faz parte do projeto Mandiotec, componente do Projeto Integrado da Amazônia, financiado pelo Fundo Amazônia e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), em cooperação com o Ministério do Meio Ambiente, desenvolvido com o objetivo de promover o fortalecimento da cadeia produtiva da mandioca na região do Juruá, para aumento da renda e promoção da qualidade de vida das famílias rurais.