Cruzeiro do Sul, Acre, 24 de dezembro de 2024 13:18

Queda do ditador da Síria Bashar Al Assad abre nova crise entre potências e Conselho da ONU é acionado

vladimir-putin-e-bashar-al-assad-durante-encontro-em-sochi-em-maio-de-2018-1528938397958_v2_900x506.jpg (1)

Após um pedido feito pelo governo de Vladimir Putin, o Conselho de Segurança da ONU realizará nesta segunda-feira (9) uma reunião de emergência para avaliar a situação na Síria. O ditador Bashar Al Assad teve seu regime encerrado, diante da insurgência de rebeldes.

Vladimir Putin e Bashar al-Assad durante encontro em Sochi, em maio de 2018
Imagem: Mikhail KLIMENTYEV/SPUTNIK/AFP

O ex-presidente e sua família fugiram e receberam asilo político na Rússia. Mas Moscou quer deixar claro que o evento ameaça ampliar a crise regional e acusa potências ocidentais de terem aproveitado da crise na Ucrânia para forçar uma desestabilização também da posição russa na Síria, um tradicional aliado.

Para analistas, foi justamente a falta de apoio de Moscou ao regime de Assad – enquanto realizada sua ofensiva na Ucrânia – que permitiu que as tropas rebeldes avançassem sem grandes obstáculos nos últimos dias.

O encontro ocorre a portas fechadas, em Nova York, numa demonstração da tensão entre as potências. Diplomatas admitiram ao UOL que a queda de Assad e a forma pela qual alguns dos principais nomes da região celebraram abertamente ampliaram o mal-estar.

“Diante dos últimos acontecimentos na Síria, cuja profundidade e consequências para o país e toda a região ainda não foram mensuradas, a Rússia pediu consultas urgentes a portas fechadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas”, afirmou a delegação russa.

Moscou alega que o que a crise gera é a possibilidade de que grupos extremistas islâmicos possam ampliar sua presença na Síria, com um impacto para a segurança internacional.

O governo dos EUA comemorou a queda de Assad, assim como o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Para ambos, a crise é uma derrota de Moscou.

Enquanto isso, na ONU, os apelos públicos e nos bastidores é para que o ciclo de violência não ganhe um novo capítulo.

Diplomatas e observadores da entidade na região alertam sobre o risco de que uma disputa pelo poder em Damasco e pelos espólios de Assad transformem o país numa nova Líbia, fraturada desde a queda de seu regime ditatorial. Ou que a instabilidade seja ampliada na região.

Diplomatas estrangeiros em Damasco afirmam ao UOL que, apesar da declaração das novas autoridades síria de que iriam buscar criar um estado “democrático”, há uma percepção de existir um vácuo de poder e de uma indefinição sobre quem de fato está em controle. Em diferentes locais da capital e pelo país, os relatos são de caos e tensão.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou ainda que “após 14 anos de guerra brutal e a queda do regime ditatorial, o povo da Síria pode hoje aproveitar uma oportunidade histórica para construir um futuro estável e pacífico”.

“O futuro da Síria é uma questão que cabe aos sírios determinar, e o meu Enviado Especial estará a trabalhar com eles para esse fim”, disse.

“Há muito trabalho a fazer para assegurar uma transição política ordenada para instituições renovadas. Reitero o meu apelo à calma e a que se evite a violência neste momento sensível, protegendo simultaneamente os direitos de todos os sírios, sem distinção”, disse.

Ele pediu que sejam respeitadas a inviolabilidade das instalações e do pessoal diplomático.

Ele ainda fez um apelo à autoridades para “garantir que qualquer transição política seja inclusiva e abrangente e que responda às legítimas aspirações do povo da Síria, em toda a sua diversidade”. “A soberania, a unidade, a independência e a integridade territorial da Síria devem ser restauradas”, completou.

Negociadores do processo de diálogo no Oriente Médio ainda alertam para o risco de que Israel aproveite a situação para ampliar sua ocupação das colinas de Golã e regiões de fronteira. A preocupação ficou mais nítida depois que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, sinalizou que iria reforçar a presença militar na região, sob a justificativa de proteger israelenses.