Escola venceu o carnaval de São Paulo depois de 15 anos; troféu foi conquistado em apuração acirrada, na última nota e no critério de desempate
Já se passavam das 23h desta terça, 4, e a festa na quadra da Rosas de Ouro, campeã do carnaval de São Paulo de 2025, parecia que estava só começando. O barracão da escola, na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo, ficou lotado de foliões e simpatizantes da Roseira, animados e emocionados pelo oitavo título da história da agremiação, o primeiro desde 2010.
O troféu que quebrou o jejum de 15 anos da escola veio acompanhado de tensão e emoção. A nota que tornou a Rosas campeã saiu só no jurado final, no último quesito (Evolução). E ainda foi necessário recorrer ao critério de desempate (notas descartadas), porque a Unidos do Tatuapé também terminou a apuração com os mesmos 269.8 pontos da Rosas.

“Eu nunca tinha visto uma apuração tão emocionante como a de hoje”, disse à reportagem Jair Rodrigues, de 73 anos, um senhor de passos lentos e uma bengala nas mãos. Acompanhando do neto, que emprestava um dos braços para dar mais sustentação ao avô, o veterano foi à quadra da Rosas de Ouro para cumprimentar a presidente da escola, Angelina Basílio, pelo título conquistado.
“Cheguei aqui (na Rosas de Ouros) em agosto de 1972. A escola é minha vida, minha paixão”, conta Jair, que já ocupou o cargo de ex-diretor de bateria da agremiação e hoje é integrante da velha guarda da Roseira. “Eu sempre desfilei. Mas não participei dos últimos dois anos por conta da minha artrose”, explica, apontando para a bengala.
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Diferente de Jair Rodrigues, que tem laços com a escola há décadas, Jennifer Amato, 32, começou a participar dos desfiles da escola só em 2024. “Eu venho para cá porque faço parte de um grupo coreográfico. E aí, esse grupo que me chamou para fazer parte da Rosas”, diz.
Ela não mora na Freguesia e nem na Brasilândia, locais onde a escola tem fortes conexões com as comunidades de lá. “E moro na Zona Leste e venho sempre pra cá. Vivo aqui agora”, disse Jennifer, entusiasmada pelo título. “Foi maravilhoso, a escola é maravilhosa e me conquistou. Mesmo estando pouco tempo, ela me conquistou de uma forma inexplicável.
A reportagem acompanhou a festa da Rosas de Ouro. O pavilhão lotado era guiado pelos diretores da escola, que puxavam as músicas do palco. Uma das mais cantadas, além do samba-enredo, era o gripo de: “A campeã voltou”.
O troféu foi levado a uma sala onde as pessoas puderam tirar fotos ao lado da honraria. Algumas pessoas se emocionaram com a conquista e chegaram a chorar neste momento.

Para a Angelina Basílio, presidente da escola, a conquista é fruto de um projeto da Rosa de se abrir mais para a própria comunidade. “Quando a comunidade chegou junto, a evolução da escola cresceu”, disse ela ao Estadão, ao lado do troféu de campeã.
A Rosas de Ouro desfilou com o enredo Rosas de Ouro em uma Grande Jogada, que contou sobre a história e importância dos jogos na vida das pessoas.
Para a reportagem, o carnavalesco Fabio Ricardo, que estreou na Rosas no desfile deste ano, disse que percebeu uma mudança de energia e postura na escola no decorrer dos últimos meses.
“Quando eu cheguei, eu percebi que a escola estava pronta para ser campeã. Eu falei para o diretor: ‘A escola está preparada para ser campeã. Só depende da Rosas de Ouro se organizar e querer ganhar’. O chão da escola queria ganhar”, disse.
Para isso, ele tentou contribuir fazendo uma melhor organização administrativa e institucional para a agremiação, oferecendo mais escuta aos integrantes, mais sofisticação ao desfile e consciência sobre os gastos. “Ninguém faz carnaval sozinho. É como uma corrente, se um elo tiver fraco, arrebenta. E, dessa vez, todos estavam unidos”, afirmou.