A investigação da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), que investiga o caso, apontou execução e tortura das crianças
Ódio, revolta e tristeza descrevem o sentimento de uma parente de um dos meninos desaparecidos em Belford Roxo, o Lucas Matheus, de 9 anos. Nesta quinta-feira, a Polícia Civil concluiu o inquérito que investigava o caso. O documento apontou para a morte de Lucas, do primo Alexandre da Silva, de 11 anos, e do amigo Fernando Henrique, de 12.
“Meu sentimento ao saber do que tinha acontecido foi de ódio, de revolta, de tristeza. Nós dormimos pouco ontem. Não conseguimos dormir direito. Ficamos sem chão. A gente não queria acreditar. Agora, a gente sabe que as crianças não voltam mais”, lamenta a parente, que preferiu não ser identificada por medo de perseguição.
O inquérito da Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), que investiga o caso, foi concluído 17 dias antes do caso completar um ano. Segundo a investigação, um dos meninos foi torturado e os outros dois foram executados. Os corpos foram jogados em um rio próximo à região. De acordo com os policiais, traficantes do Complexo do Castelar, onde moravam, submeteram os meninos a uma sessão de tortura por terem se envolvido no furto de uma gaiola de passarinho.
“A gente fica sem entender. Se eles tivessem feito algo de errado, por que não falaram com os pais? Familiares? O que fizeram foi uma crueldade”, questiona.
Nesta quinta-feira, a Polícia Civil deflagrou uma operação para cumprir 56 mandados de prisão expedidos pela Justiça. Deste total, 51 são de envolvidos com a estrutura do tráfico do Castelar, e cinco ligados aos homicídios. Ao todo, 33 pessoas foram presas. Dos cinco suspeitos de envolvimento na morte dos meninos, três já estariam mortos. São eles: Wiler de Castro Silva, o Stala, gerente de drogas do Castelar, Ana Paula da Rosa Costa, a tia Paula, gerente de cargas sintéticas, e José Carlos dos Prazeres Silva, o Piranha, um dos donos do tráfico do Complexo Castelar.
“Agora, nossa busca é pelo corpo. Queremos saber onde eles estão. Vamos fazer uma passeata dia 27 deste mês, na comunidade. Vamos todos nós branco, com cartazes, pedindo pelo menos um pouco de paz”, diz a parente.
Telefonemas detalham tortura
Em um telefonema, feito durante uma operação policial no Castelar e que foi grampeado pela polícia com autorização judicial, em maio, um dos traficantes deu detalhes da tortura sofrida pelos três meninos. Ao comentar uma notícia exibida na TV, dando conta que um deles era suspeito do crime, o outro respondeu com ironia. ” E tu não quis nem bater né”, disse na conversa. Já em outro diálogo interceptado, desta vez entre um homem e uma mulher, esta última diz que foi Stala quem toturou os meninos. ” O Stala torturou muito as crianças. Foi ele quem mandou matar”, disse a mulher, durante a conversa.