MANAUS (AM) – A não ser que caia uma tempestade, é improvável não encontrar a cirurgiã-dentista Regiane Cruz, de 46 anos, pedalando pelo calçadão da Ponta Negra, na Zona Oeste de Manaus, ao menos três vezes por semana. Apaixonada por ciclismo, ela gostaria de poder usar o meio de transporte em sua rotina, mas tem medo de se tornar mais uma vítima do trânsito da capital do Amazonas.
De acordo com o levantamento realizado pelo grupo Pedala Manaus, de 2013 a 2021, 31 pessoas perderam a vida enquanto andavam de bicicleta pelas ruas de Manaus. Só neste ano, já foram contabilizadas três mortes e 18 acidentes envolvendo ciclistas.
Para Regiane, o trânsito manauara ainda está muito longe de oferecer condições mínimas de segurança para a trafegabilidade de ciclistas.
“Eu gostaria muito de ir ao trabalho, por exemplo, de bicicleta, mas infelizmente não há ciclovias, nem ciclovias adequadas para a locomoção na cidade, e as que existem me passam muita insegurança. Além disso, acho que os demais motoristas precisam respeitar os ciclistas no trânsito, mas o que percebemos nas ruas, é exatamente o contrário disso, muito imprudência e desrespeito“, afirma
Pior capital do Brasil para se andar de bicicleta
Em 2019, uma pesquisa realizada pelo site Mobilize Brasil, divulgado pela Agência Senado, constatou que Manaus é a última no ranking entre 19 capitais presentes no estudo. Em primeiro aparece São Paulo, com a maior rede de ciclovias da América Latina.
Segundo o coordenador do Pedala Manaus, o ativista Paulo Aguiar, a capital do Amazonas possui uma série de problemas relacionados a estrutura do trânsito.
“Manaus é uma cidade hostil para se pedalar. Pouca ou quase nenhuma infraestrutura cicloviária, vias com velocidades regulamentares que ninguém respeita, ausência de vias calmas ou zonas de 30 quilômetro por hora que permitiriam o compartilhamento“, explicou Aguiar.
Para o líder do movimento, as avenidas de grande movimentação da cidade são as mais perigosas para quem gosta de pedalar. “Se tratando de vias perigosas, citaria as avenidas Autaz Mirim, Efigênio Salles, Rodrigo Otávio e Torquato Tapajós. São vias que tem velocidades muito altas, o que acaba se tornando extremamente perigosas para os ciclistas”, explanou o ativista.
Atropelado por um ônibus
Duas semanas depois de ter sido atropelado por um ônibus de transporte coletivo da empresa Expresso Coroado, o ciclista Saulo Viana segue internado na UTI do Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio. O rapaz realizava um percurso de bicicleta pela avenida Brasil, na Zona Oeste, quando ocorreu o acidente.
“Ele passou por um procedimento cirúrgico na segunda-feira (26), e tem resistido, apesar de ainda estar em estado gravíssimo, fazendo hemodiálise, e apresentando um quadro de meningite e pneumonia, além de outras complicações”, relatou uma parente de Saulo ao Em Tempo.
Somente após uma manifestação organizada por familiares do rapaz, exigindo assistência médica da empresa de ônibus, a Expresso Coroado se comprometeu a prestar auxílio, entretanto, como Saulo está em estado grave, ele ainda não poderá ser transferido para um hospital particular.
O Em Tempo procurou a empresa de coletivos, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
Músico do boi Garantido foi uma das vítimas fatais
Aos 29 anos, o integrante da batucada do Boi Garantido, Mauro Júnior Filho, teve a vida interrompida por uma tragédia. Ele foi atropelado por um carro enquanto trabalhava como entregador de delivery, na noite do dia 28 de fevereiro, na avenida Constantino Nery, Zona Centro-Sul de Manaus. O motorista do veículo fugiu sem prestar socorro à vítima.
De acordo com familiares, Mauro estava indo deixar um pedido em sua bicicleta, quando foi atingido por um automóvel, modelo Chevrolet Montana. Com o impacto, o músico bateu com a cabeça em uma árvore do canteiro central da avenida e sofreu traumatismo craniano.
O entregador ainda chegou a ser socorrido por uma ambulância do Serviço Móvel de Atendimento Urgente (Samu), e foi levado ao Hospital e Pronto-Socorro João Lúcio, na zona Leste da capital, mas não resistiu e faleceu horas após ser internado.
O que diz a Prefeitura de Manaus
A Prefeitura de Manaus estuda fazer alguns ajustes nas ciclovias e ciclofaixas na cidade, para dar mais segurança às pessoas que utilizam a bicicleta como meio de transporte ou lazer e também para estimular a prática da modalidade.
Segundo o Instituto Municipal de Mobilidade Urbana (IMMU), o órgão busca ouvir quem mais utiliza a ciclomobilidade, a fim de atender as suas principais necessidades e reivindicações.