A Câmara Municipal de Cruzeiro do Sul recebeu no plenário, na sessão da noite desta terça-feira (15), mulheres do Movimento das Mulheres Negras do Vale do Juruá que realiza um trabalho social de relevância de defesa das mulheres do município e contra a violência doméstica e tiveram a oportunidade de usar a tribuna para sua mensagem contra os preconceitos.
A professora, escritora e poetisa Cibele Clemente usou a tribuna da Câmara para declamar uma poesia dedicada as mulheres pelo Dia Internacional da Mulher e agradeceu o apoio dos vereadores à Associação de Mulheres Negras do Vale do Juruá ao destacar ainda que a mulher conseguiu êxitos, mas enfrenta ainda muitos preconceitos.
“Como mulher negra, professora, natural de cruzeiro do Sul e escritora, tudo isso louvo a Deus que é o nosso sustento e foi muito bonito ver a sessão ser iniciada com a oração do Pai Nosso que é universal. Quero dizer que as mulheres lutam pelos seus direitos, mas não querem briga com os homens”, disse.
Cibele destacou que a sociedade ainda tem muitos preconceitos contra a mulher, principalmente com as negras que tem sido mortas vítimas de feminicídio todos os dias, ficam reféns dos homens momento que pediu aos veredores políticas públicas para apoiar a Associação Juruaense de Mulheres ao agradecer o espaço.
Declamação poesia Desperta Mulher:
“Ter uma visão de alguma coisa porque alguém falou é uma coisa, mas pela experiência própria é outra. Estamos aqui para que as políticas públicas nos ajudem. Não estou vendo nenhuma mulher vereadora nesta Casa, mas acredito que os senhores também tem essa compreensão e o que puderam fazer podem nos ajudar”, disse.
A professora Rosalina, presidente da Associação Juruaense de Mulheres, na tribuna da Câmara Municipal, cumprimentou os vereadores ao agradecer o espaço cedido na sessão às mulheres ao destacar que os movimentos sociais tem grande importância no processo de conhecimento que levar as mulheres a reconhecerem seus direitos.
“Vamos colocar uma carta da Associação das Mulheres Negras que foi redigida durante o encontro das mulheres negras, em Rio Branco. Quero dizer que a Associação Juruaense das Mulheres é uma Organização Não Governamental e um ponto de cultura que faz parte do movimento que contempla as mulheres brancas, negras e indígenas”, disse.
Rosalina destacou que desde 2009 atua no movimento social, coordenou o trabalho das mulheres vítimas da violência doméstica, 12 anos na Casa Abrigo no Centro de Referência às Mulheres do governo do Estado, que agora está desativado, ao destacar que as políticas públicas para as mulheres em Cruzeiro do Sul e no Acre estão muito a desejar.
“Estamos aqui porque os vereadores tem esse sentimento de amor pela causa porque ninguém quer ser morta, espancada ou maltratada. A cultura machista é tão impregnada que muitos chegam a dizer que mulher gosta é de apanhar e frases machistas como mulher no volante perigo constante tem que ser banidas da cabeças das pessoas”, avalia.
A professora destacou ainda a necessidade de ter mulheres eleitas para a Câmara Municipal ao ressaltar que até as próprias mulheres tem preconceito contra elas mesmas ao citar que quando uma mulher é candidata não consegue ser eleita situação que precisa ser mudada porque as mulheres são a maioria da população.
A professora Silaide também fez uso da tribuna da Câmara Municipal. “Trabalhei com a Rosalina na época que ela trabalhava no Centro de Apoio as Mulheres (CEAM). É muito importante que a Camara de Vereadores e o poder público abracem essa causa de esclarecer porque as vezes a mulher vive momentos de violência e não sabe”, disse.
Silaide destacou também que passou a conhecer a violência doméstica depois que teve a oportunidade de trabalhar com a professora Rosalina ao ressaltar que as políticas públicas são extremamente necessárias para esclarecer a população e citar que muitas vezes um casal vive momentos de violência por falta de conhecimento.
“As palestras nas comunidades e bairros tem grande importância, sabemos que muita coisa mudou e hoje há muito esclarecimento. Como eu não sabia muita gente ainda não sabe razão da importância das políticas públicas. Todos os dias no Brasil uma mulher é morta ou violentada e muitas crianças vivem momentos de violência”, destacou.
A professora agradeceu a vereador Clerton Souza pela oportunidade. “É preciso um trabalho de prevenção para que as crianças sejam protegidas com um lugar seguro para viver. Como vamos ter uma humanidade tranquila se não protegermos as crianças”, perguntou ao destacar que é preciso a união de todos para conseguir mudar o quadro de violência. “Agradeço pela oportunidade, não estava esperando, mas avalio como de grande importância para esclarecer a população”, finaliza.
A técnica de enfermagem líder da Pastoral da Criança, Clícia, foi outra das mulheres da Associação que usou a tribuna que destacou o envolvimento das mais de 500 mulheres da Pastoral da Criança. “As mulheres gostam dos homens, precisamos que os vereadores apoiem e vejo muitos vereadores, como Gilmar da Saúda, envolvidos no trabalho social”, disse.
Clícia destacou que agora a Câmara de Vereadores não faz mais vergonha, antes havia muitas brigas e ela deixou de participar das sessões. “Queremos que haja amor e que o homem não bata na mulher, que não as chamem de feias e não as magoem para que os filhos sejam pessoas saudáveis”, enfatiza.
A militante do movimento das mulheres destacou ainda que é preciso proteger as famílias da melhor maneira possível momento que agradeceu o espaço oferecido pelos vereadores. “Muitas mulheres já morreram, escapei também de morrer porque meu marido estava embriagado e tive a oportunidade de tirar os filhos do ciclo da violência”, disse.
Outra que teve a oportunidade de usar a tribuna foi a militante social Rose que pediu aos vereadores abraçarem a causa e a luta contra a violência contra a mulher ao parabenizar a professora Rosalina que tem uma grande luta no movimento há muitos anos e agradecer por ela reunir as mulheres por um mundo mulher.
“A violência começa dentro de casa, o pai diminuindo a mãe, a mãe diminuindo os filhos e a realidade é que há um ciclo familiar onde a violência é constante e faz a mulher casar mais nova para sair de casa. Nas regiões isoladas tem mulheres em cárcere privado. O cara casou com mais de cinco mulheres, casa com uma de 16 anos para ela criar os filhos dela e os que ele teve com as outras mulheres”, disse.
Rose destacou ainda a necessidade de mulheres no parlamento. “São 14 vereadores e não tem nenhuma mulher vereadora num universo de mais de 100 mil habitantes onde a maioria são mulheres. As mulheres estão sendo obrigadas a fazerem coisas absurdas e quero agradecer as pessoas que tem buscado apoiar as mulheres”, disse.
Veja o que disseram:
O veredor Elter Nóbrega
“Apesar de não ter mulheres eleitas estamos atentos, acompanhando a situação covarde das cirurgias eletivas, uma promessa do governador que não aconteceu que é uma violência do governo contra as mulheres. Os vereadores foram em busca de resolver o problema, mas não conseguiram até agora. Acompanhamos há muito tempo esse trabalho e vemos que não avançaram. O estado tinha uma Secretaria das Mulheres e agora não tem mais”.
Vereador Clerton Souza
“Essa política pública em defesa da mulher nunca foi fácil, acompanho o trabalho da rede social através do CRAS, é preciso mais recursos humanos e aparelhos para a Delegacia da Mulher, CREAS, funcionar o abrigo da mulher que precisa de um aparato e se um desses atores falharem a vida da mulher está em risco. Tudo é muito sério e há muito tempo não vemos campanhas preventivas nas ruas sendo necessário a sociedade civil organizada fazer alguma coisa. O prefeito Zequinha Lima criou uma Coordenação da Mulher, mas o governo do Estado tem falhado nestas políticas. O vereador Gilmar tem sempre puxado a pauta das cirurgias eletivas que tem uma fila reprimida muito grande. Fiquei triste em ver os funcionários da saúde protestando na noite com uma vela na mão. Estamos no final do governo e não tem mais tempo para fazer muita coisa. A Câmara Municipal está sempre a disposição para se posicionar ao lado dos que menos tem. Parabenizo os vereadores por serem parceiros. Temos uma geração de 90 mil jovens que nem estudam e nem trabalham. Na medida do possível temos defendido a mulher, o jovem e os que mais precisam. Parabenizo o trabalho da professora Rosalina que é uma guerreira Rosalina e parabenizo todas as mulheres.
Vereador Gilmar da Saúde
“Cumprimentar as mulheres em nome da Clícia, foram muitos plantões cuidando das mulheres na maternidade, geralmente o ano é recheado de datas comemorativas, mas o dia 08 de março e o agosto lilás são das mais importantes importantes. Mas, não se pode esquecer que essa política preventiva precisa ser o ano todo. Infelizmente alguns homens ainda agridem suas esposas e filhas e esse trabalho tem que ser o ano todo. A vitória das mulheres é fruto do trabalho delas próprias que não podem abaixar a cabeça e os homens de bom senso precisam saber que se não fossem as mulheres não estaríamos aqui. Essa é uma Casa de Justiça também. Encontrei a professora Rosalina que precisava pagar taxas da ONG para acessar um projeto da Lei de Incentivo e hoje estou apresentando um projeto de lei para tornar a Associação de Mulheres Juruaneses entidade de Utilidade Pública que vai ficar isenta do pagamento das taxas municipais.
O vereador Antônio Cosmo
“Cumprimento as mulheres em nome da professora Rosalina, graças a Deus retornei para o terceiro mandato sugiro que a Cibele possa minutar um projeto de lei para criar uma data específica de combate a violência contra a mulher no município e estamos aqui representando todas as classes. Não me incluo nos vereadores que brigavam na legislatura passada período que apresentei vários projetos de lei. Estamos aqui por merecer e o futuro a Deus pertence. Não sabia desse histórico de violência e isso é lamentável. Estamos dando um suporte ao prefeito para aprovar os projetos de lei de interesse da população e espero que apresentem esse projeto. Que Deus abençoe as senhoras que lutam em favor dessa importante causa.
O vereador Mazinho da BR
“Cumprimentar as pessoas presentes e dizer que tenho acompanhado a dona Rosalina de muitos anos, lutando sempre pela causa social, um trabalho muito importante. Sempre escuto o trabalho da Clícia na Rádio e como bem colocaram os vereadores que me antecederam vamos colaborar aprovando o projeto de lei do vereador Gilmar da Saúde que beneficia a entidade. Temos recebido muitas entidades e será importante as ideias novas para que os vereadores possam colaborar. Podem contar comigo porque gosto de participar dessas campanhas.
O vereador João Keleu
“Cumprimentar as mulheres na pessoa da Clícia que é muito preocupada com as causas das crianças. Cheguei um dia num posto de saúde onde uma mãe estava com os filhos descalços e ela me chamou e pediu para comprar chinelos para as crianças. Para ver o o tamanho da violência contra a mulher é só visitar a Delegacia da Mulher. As vezes digo que vai mais mulher para o céu do que homem porque elas oram mais, são mais organizadas em tudo, no trabalho em casa e fora, lavam a roupa, fazem a comida. Um homem para cuidar da casa ele passa poucos dias e não consigo ficar muito tempo longe da minha esposa. Hoje, os jovens que vão casar precisam ter muita cautela porque o casamento e eterno. Estou com 23 anos de casamento para honra de Deus. Num estudo de casais se percebe a grande dificuldade e Cruzeiro do Sul bate recorde de gente se separando, mais do que casando e isso é muito ruim para a sociedade.
O vereador Altemar da Santa Rosa
“Quero falar um caso que aconteceu na vila Santa Rosa. Há seis anos ajudei uma pessoa, uma mulher fez uma cirurgia para colocar um marca-passo e que morou com suas duas crianças uns dois ou três anos com um homem que depois a deixou. No período que ela fez a cirurgia pediu um benefício que só foi conseguido depois que ela morreu. A avó das crianças cedeu um terreno na frente da casa dela para a filha morar. Numa madrugada a mãe pediu para uma das crianças pegar um copo de água e quando ela voltou sua mãe estava caída no chão. A criança ficou a noite toda para esperar aparecer alguém para avisar que sua mãe tinha caído da cama, mas ela já estava morta. A avó conseguiu o benefício e o INSS pagou o retroativo que deu cerca de R$ 40 mil. Quando o homem soube do valor que foi recebido pela avó entrou na justiça pedindo a metade do valor. Hoje, aconteceu o julgamento e o Juiz de Direito, que não sei o nome, negou o recurso. Vou saber quem foi esse juiz para pedir uma Moção de Aplausos para ele que fez a justiça. E o homem ainda foi mentir na Justiça dizendo que só tinha saído de casa depois do sepultamento da mulher.
